quarta-feira, 8 de abril de 2009

Lembro-me.


Retiro as caixas de sapato do guarda roupa, sabendo, óbvio, que tu estavas, querendo ou não, trancado, sem nem precisar de cadeados, em cada uma delas. Recordo-me das pintadas com cores alegres, as rosas tingidas se sorrisos teus, os girassóis de palavras minhas. Umas escuras, essas lembravam nossas lágrimas, mais minhas que tuas, mas ainda assim eram nossas. Nossas: plural. Para mim, singular. Uma chamou-me atenção, não havia nada. Flores, nem canções. Lembrei-me do fato final, encerrou-se ali, no nada. Tu não quisestes dividir nada comigo, levastes tudo que havia de bonito e colorido, me deixastes com o escuro e o vazio. Carrego nossas caixas, além do que ficou, resta-me o amor.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Sinto.

Frio assim, daqueles que não passam com colcha grossa, nem chá quente. É frio de estremecer noite solitárias, sempre solitárias.
Precisava de calor humano, do teu calor, não por nada, só pelo frio.
Inverno sempre machuca mais que qualquer outono ou verão, inverno dói, sem dimensão, extensão, comprimento, só doi. É incalculável, talvez o seja porquê o temor vem de um sentimento, e sentimento nunca tem medida, só tem ferida.
Saí descalça, as pedras não doem na proporção que deveriam doer, a verdade é que pedra é tão material quanto qualquer telefonema que me fizestes. Quando não é de alma, não vale, então era melhor que economizasses tuas palavras repetidas.
Caminho com uma mochila nas costas; ando, sabendo andar, sigo, sem rumo a seguir, caiu, sem forças para levantar. A rua tá aí. Sem ninguém aqui. Fico no chão, no frio, em pedras, sem ti.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Para.

Falta: Milhões de pedaços jogados fora, arrancados sem permissão e abandonados em qualquer quarto escuro, sem direito nenhum a luz.
Falta é a vontade de ter e não mais poder. Falta é querer gritar e não ter garganta para isso. Falta é carregar no colo a lembrança de faces hoje desconhecidas. Falta é ter amor em excesso, mas é amor que já não deveria estar aqui. Falta é ferida que dói sem que tenha remédio para cura momentânea, que seja, não tem cura. Falta é falta. Falta sempre é a falta de alguma coisa, de algo, de fato, de lado, costas, frente, quatro. Além de tudo é preta, negra, daquelas que não tem, nem no fundo, uma luszinha de esperança. Porque na falta não há esperança, só falta.