quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Levanta.


Construímos uma casa na montanha, era tudo tão bonito, tinha o nosso cheiro, aquele que só os dois tínhamos o conhecimento da fragrância.
Era tempo tempestuoso, e eu temia isto, afinal casinhas bonitas sempre são frágeis. Mas tudo corria bem, as plantas eram coisas lindas e enchia olhos de quem quisesse por ali passar.
O acaso faz parte de qualquer história, ainda que bonita de se ouvir, então...
Finais deveriam de ser obrigatoriamente como um: final feliz, mas não como é coisa pronta e acabada, nossa casa foi destruída por mãos conhecidas. Rolaram lágrimas e queixas de uma só parte, como se a construção partisse de um singular.
Ficou tudo deste jeito, embaixo de pontes e barrancos. Não houve vontade, não houve intenção, não houve nada para o levante deste lar. Lá encontra-se, até hoje, uma placa escrita assim: “ Pronta para acabamentos.’’

domingo, 23 de agosto de 2009

Falas de mim.


Estúpida, uma estúpida querendo crescer, mostrar-se, encantar, quem, afinal? Se mal sabes o que queres, mal sabes de quem gostar, porquê gostar, como e de quê proporção gostar. Mal sonhas e quando acontece são coisas de destruir teu coração, acabar com tuas expressões. Até nos teus sonhos não há sorriso, nem amor. Até em sonhos, que tu programas, no finalzinho deles, o que queres que aconteça, até neles tu não estás a frente para o comando.Teu coração mal sabe deixar amores antigos, recordas incansavelmente lembranças de partir concretos. Tua estupidez não cansa, tu escutas as músicas que te lembram nomes que deveriam ser teu. Por que tu não cansas de amar? Não percebes que amor é algo sublime e que tu não mereces, ainda, nada que derive disso? Teus pés não sabem por onde ir, se vão, ficam, param, correm, eles não sabem, tu não os manda. A verdade é que tu não sabes de nada, não liga para nada, não ama nada, não ouve, não vê, não canta, sorri, lê, tu não choras, não te lastimas, não sente, não te surpreendes, emocionas, espanta. Pensando bem tu és uma espécie de bicho papão, só razão, nada de coração. Ah, dane-se!

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Desse jeito não.

Carreguei este dia sozinho nas costas, carregado de lembranças, sorrisos bobos, palavras, expressões, comunicações, infinitos sinônimos, pronomes, adjetivos. Foi muita coisa só p/ mim, não achas?
Perambulei caminhos distintos e obscuros procurando qualquer pista tua, te achie, óbvio, estavas dentro de mim, ou em qualquer esquina desconhecida, sabe, a gente procura sabendo que vai achar, mas tu, logo ali, ou aqui, que seja, mas é como se não estivesses, porque eu não queria marcas tuas, eu te queria, queria teu calor, teu abraço, teu físico, queria tua matéria, não tua essência.
Sumistes.
Vi o sol nascer, até se pôr.
Sumistes.
Tomei café, jantei.
Sumistes.
Acordei, tentei, escrevi, contei, li, dormir.
Sumistes.
Tu tinhas conhecimento, tu sabias o significado do dia 11 de maio, tu sabias, então, por quê?
Me faço de mulher forte e tudo mais, só sorrio, nada de olhos brilhantes e lágrimas, mas, sabes, sou uma boba vestida de mulher grande.
Hoje foi tudo que eu sempre esperei, sabias? É, foi! Porque talvez tu não passes de uma figura ambulante agradável nas horas vagas. Não sorria, seu canalha, até teu sorriso cafageste me vem como coisa bonita.
Dias, ainda que 11, são todos sempre dias.
Amanhã vou acordar contigo em mim, a verdade é que eu durmo e acordo contigo todos os dias, sem nem precisar deitar na tua cama. Te tenho sem nem precisar da tua presença.
Eu prometo não mais questionar, mas hoje era p/ ser dia de foguetes e balões, era, eu juro que era.
Se é p/ ser deste modo, não segura na minha mão com a força de quem teme a perda. Não me pega no colo e me faz sentir a mulher mais feliz, não fala que sente saudade e que é em mim que tu pensas. Se é p/ ser assim, não liga, não me procura, não vem aqui. Assim, desse jeito, não.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Bem feito.

Tu fostes, na verdade, aquilo que vem, deixa alguma coisa assim, bem significante, mas que com o tempo vai se desgastando, até que não sobre nada. Então nada de ti, sobre ti, porquê em ti.

quinta-feira, 7 de maio de 2009


Como, sem precisar de olhos nem nada, cada suspiro, pedaço, traço, parte, que te compõe. Tu entras aqui assim, como se estivesses sempre com convite feito, preparado, dado a ti. O fazes, meu bem, para quê?
Cada vinda tua, uma ida minha, e isso, compreendes? Tu vens, não perdes nada, tu continuas vindo, me levando toda, sem compaixão, aliás, vives disso, de paixão. Isso, essa coisa pesada, que pesa como concreto, me corrói, me destrói, me desfaz, e depois tenho que procurar-me, canto por canto, pedaços miseráveis meus, dito meus, ora, se nem autoridade deles tenho. São teus, não nego.
Caminhas pisoteando tudo que faz parte de mim, assim, em cima dessa capa obscura que me cobre. Demasiadas são as lágrimas derramadas por mim, as derramo, procuro pelos porquês, não os acho, nem nunca os acharei, são todos inexistentes, compostos por sinônimos e adjetivos todos singulares, retrato de uma paisagem nada bonita de se ver, isto não é, de modo nenhum, o que quero daqui para lá, para cima, para baixo, para mim, não é o que me faz, constrói, sustenta. Então meu sorriso bobo some diante das gigantescas dores, absorvi mesmo sem querer, mas são coisas que acontecem e pronto, é aceito sem recusa, questionamento ou contestação. Só de lembrar que tudo é opcional, digo, então, que estou deste modo, miserável e destruído, por opção. Pois bem, cá estou.
Saiu de casa, exausta. Com roupa que já nem esquenta o que deveria esquentar. Sumo daqui sem rumo, sem telefone, sem teu corpo, sem tua voz.
Chove, aqui chove forte, alegro-me, pensando que assim, talvez tuas marcas todas saiam de mim, de uma vez, porque já não quero tu em mim, sempre que queres, do jeito que queres, na proporção que queres.
Perco-me em corpos nunca vistos. Mas gosto da sensação de não te ter por um dia.
Uma semana se passou, sabe, o que me prendia a ti era a tua essência, ok, isso não é lá coisa difícil de se achar.
Me destes, um dia, uma rosa, daquelas de cheiro bom de se sentir, de se querer sempre, lembrei-me . Vi o vaso seco, sem mais nada teu, restou-me então isto, acho mesmo que foi isto que o que sempre quisestes me deixar. O vazio.
O caminho continua, agora já duas semanas, sem nada concreto, ninguém ao certo, telefonemas não quero, agora, de imediato, não. A geladeira ta seca de tudo, comparo-me a ela, quando deste modo a encontro. Tenho algo a declarar, sempre: Há ainda uma imensa falta tua, uma coisa de se pensar todos os dias antes de dormir, ao acordar, antes de pôr a mesa, tirá-la, sentar ao lado da escrivaninha, é, ainda lembro, falta é lembrança eterna, fato.
É coisa que não vai, acho mesmo que é a única coisa que nunca sai de nós, não parte, nem quando se tem outro alguém, outros, singular, plural, que seja. Penso que o que vem depois de duas semanas, não muda a verdade das coisas, mesmo sabendo que verdade é coisa individual, mesmo que seja, a verdade, ditada a todos, agora é esta: Duas semanas, ainda que com vinho e homens, não mudam nada.
Vem um dia ou outro com uma ligação, uma palavra bonita, mas que fica, sabendo que não é coisa fixa. E se não for deste modo, leve para você, não me interessa.
Conheci alguém, finalmente, dois meses se passaram, angustiantes, confesso. Eu não sei, mas as coisas, para mim, têm mudado, como se mudança fosse algo a qual houvesse ter mensalmente. Não, não sou de acordo e ação entrando em contradição comigo mesma. Ora, mudou, mudou e já não sei se era o que eu queria, se foi porquê quis, criei, fantasiei, fiz, talvez já não importe, porque importância é coisa complexa, que não se tem assim do dia p/ noite, então, o que mais me falta? Este, agora, de dois meses, importa-se, importa-se e isso me dói, e é súbita a vontade de querer para sempre ficar deste jeito. Então mais uma vez me contrario, são palavras, mas que sempre me fazem ficar assim, sem outras palavras. Vontade e sempre. Não, isso são coisas que p/ mim nunca serão feitas de uma coisa só. Porque não gosto da idéia do plural, plural me soa como algo distante, não meu, longínquo,, fora do meu alcance, então não, singular é perto, é coisa única, minha, que mesmo que tenha infinitos pedaços, transformam-se, de maneira imediata até, numa coisa só. Então tão mais bonito são várias numa só.
Depois de tudo, com tudo, de todos, ou quem sabe nenhum, me tranco, como de costume, no lugar onde tu me fizestes ficar, ou eu mesma me deixei encerrar. Escrevo algumas coisas sem significado nenhum, depois, com medo de que alguém as veja, jogo-as fora, porque são coisas minhas e de qualquer modo ninguém as entenderia, mas o lixeiro está cheio, então, mais um copo de whisky , não sei se isso me faz bem, de qualquer forma ninguém se importaria em saber se estou ou não aqui.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Tua.

Oi, bom dia, tu és minha respiração, eu sou tua, sou tua porque não sou de mais ninguém, eu te espero, espero um lugar na tua cama, no teu coração eu sei que não tem lugar p/ mim, não tem problema, afinal, eu só te quero por um dia.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Lembro-me.


Retiro as caixas de sapato do guarda roupa, sabendo, óbvio, que tu estavas, querendo ou não, trancado, sem nem precisar de cadeados, em cada uma delas. Recordo-me das pintadas com cores alegres, as rosas tingidas se sorrisos teus, os girassóis de palavras minhas. Umas escuras, essas lembravam nossas lágrimas, mais minhas que tuas, mas ainda assim eram nossas. Nossas: plural. Para mim, singular. Uma chamou-me atenção, não havia nada. Flores, nem canções. Lembrei-me do fato final, encerrou-se ali, no nada. Tu não quisestes dividir nada comigo, levastes tudo que havia de bonito e colorido, me deixastes com o escuro e o vazio. Carrego nossas caixas, além do que ficou, resta-me o amor.