quinta-feira, 7 de maio de 2009


Como, sem precisar de olhos nem nada, cada suspiro, pedaço, traço, parte, que te compõe. Tu entras aqui assim, como se estivesses sempre com convite feito, preparado, dado a ti. O fazes, meu bem, para quê?
Cada vinda tua, uma ida minha, e isso, compreendes? Tu vens, não perdes nada, tu continuas vindo, me levando toda, sem compaixão, aliás, vives disso, de paixão. Isso, essa coisa pesada, que pesa como concreto, me corrói, me destrói, me desfaz, e depois tenho que procurar-me, canto por canto, pedaços miseráveis meus, dito meus, ora, se nem autoridade deles tenho. São teus, não nego.
Caminhas pisoteando tudo que faz parte de mim, assim, em cima dessa capa obscura que me cobre. Demasiadas são as lágrimas derramadas por mim, as derramo, procuro pelos porquês, não os acho, nem nunca os acharei, são todos inexistentes, compostos por sinônimos e adjetivos todos singulares, retrato de uma paisagem nada bonita de se ver, isto não é, de modo nenhum, o que quero daqui para lá, para cima, para baixo, para mim, não é o que me faz, constrói, sustenta. Então meu sorriso bobo some diante das gigantescas dores, absorvi mesmo sem querer, mas são coisas que acontecem e pronto, é aceito sem recusa, questionamento ou contestação. Só de lembrar que tudo é opcional, digo, então, que estou deste modo, miserável e destruído, por opção. Pois bem, cá estou.
Saiu de casa, exausta. Com roupa que já nem esquenta o que deveria esquentar. Sumo daqui sem rumo, sem telefone, sem teu corpo, sem tua voz.
Chove, aqui chove forte, alegro-me, pensando que assim, talvez tuas marcas todas saiam de mim, de uma vez, porque já não quero tu em mim, sempre que queres, do jeito que queres, na proporção que queres.
Perco-me em corpos nunca vistos. Mas gosto da sensação de não te ter por um dia.
Uma semana se passou, sabe, o que me prendia a ti era a tua essência, ok, isso não é lá coisa difícil de se achar.
Me destes, um dia, uma rosa, daquelas de cheiro bom de se sentir, de se querer sempre, lembrei-me . Vi o vaso seco, sem mais nada teu, restou-me então isto, acho mesmo que foi isto que o que sempre quisestes me deixar. O vazio.
O caminho continua, agora já duas semanas, sem nada concreto, ninguém ao certo, telefonemas não quero, agora, de imediato, não. A geladeira ta seca de tudo, comparo-me a ela, quando deste modo a encontro. Tenho algo a declarar, sempre: Há ainda uma imensa falta tua, uma coisa de se pensar todos os dias antes de dormir, ao acordar, antes de pôr a mesa, tirá-la, sentar ao lado da escrivaninha, é, ainda lembro, falta é lembrança eterna, fato.
É coisa que não vai, acho mesmo que é a única coisa que nunca sai de nós, não parte, nem quando se tem outro alguém, outros, singular, plural, que seja. Penso que o que vem depois de duas semanas, não muda a verdade das coisas, mesmo sabendo que verdade é coisa individual, mesmo que seja, a verdade, ditada a todos, agora é esta: Duas semanas, ainda que com vinho e homens, não mudam nada.
Vem um dia ou outro com uma ligação, uma palavra bonita, mas que fica, sabendo que não é coisa fixa. E se não for deste modo, leve para você, não me interessa.
Conheci alguém, finalmente, dois meses se passaram, angustiantes, confesso. Eu não sei, mas as coisas, para mim, têm mudado, como se mudança fosse algo a qual houvesse ter mensalmente. Não, não sou de acordo e ação entrando em contradição comigo mesma. Ora, mudou, mudou e já não sei se era o que eu queria, se foi porquê quis, criei, fantasiei, fiz, talvez já não importe, porque importância é coisa complexa, que não se tem assim do dia p/ noite, então, o que mais me falta? Este, agora, de dois meses, importa-se, importa-se e isso me dói, e é súbita a vontade de querer para sempre ficar deste jeito. Então mais uma vez me contrario, são palavras, mas que sempre me fazem ficar assim, sem outras palavras. Vontade e sempre. Não, isso são coisas que p/ mim nunca serão feitas de uma coisa só. Porque não gosto da idéia do plural, plural me soa como algo distante, não meu, longínquo,, fora do meu alcance, então não, singular é perto, é coisa única, minha, que mesmo que tenha infinitos pedaços, transformam-se, de maneira imediata até, numa coisa só. Então tão mais bonito são várias numa só.
Depois de tudo, com tudo, de todos, ou quem sabe nenhum, me tranco, como de costume, no lugar onde tu me fizestes ficar, ou eu mesma me deixei encerrar. Escrevo algumas coisas sem significado nenhum, depois, com medo de que alguém as veja, jogo-as fora, porque são coisas minhas e de qualquer modo ninguém as entenderia, mas o lixeiro está cheio, então, mais um copo de whisky , não sei se isso me faz bem, de qualquer forma ninguém se importaria em saber se estou ou não aqui.

2 comentários:

  1. Quem disse que não leio teus posts?
    Só não os comento, pois ficaria redundante demais.
    Tu sabes que eu sei que tu sabes escrever. E isso me nos basta. Amo você, 'Duarda. ;)

    ResponderExcluir
  2. Escreves muito bem paulinha..

    Beijos.

    ResponderExcluir